Que tipo de comunicação você faz?

Nesta semana, nas minhas pedaladas matutinas de mountain bike, passei por uma plantação de milho e me surpreendi com uma placa colocada ali pelo proprietário. A placa dizia: “Milho transgênico – impróprio para o consumo”. Achei curiosa aquela comunicação cuja intensão óbvia era espantar os ladrões de milho que passam por aquela estrada rural.

Comunicação do medo

O agricultor utilizou uma das estratégias mais antigas de comunicação persuasiva: o medo. Aliás, seus pais também utilizavam quando lhe diziam: “Se você colocar a mão aí vai apanhar!”. E funciona! Neste caso, quem é que tem coragem de furtar umas espigas e comer? Na dúvida, melhor não arriscar.

O problema da comunicação do medo é que ela tem efeitos colaterais bem sérios. Primeiro, ela não produz crescimento e estimula a imaturidade. Crianças criadas apenas na comunicação do medo, viram adolescentes rebeldes e adultos transgressores. A autonomia não é estimulada. Enquanto há a ameaça ela funciona; inexistindo a ameaça, ela perde o efeito. E pior: ela estimula a ação que quer coibir. No caso, esta placa apenas poderá eliminar o furto ali mas o receptor da mensagem se sentirá até estimulado a furtar milho em outro lugar, porque “lá não é transgênico”.

Segundo, é uma comunicação que depõe contra o caráter do emissor. Sem querer entrar na discussão dos transgênicos, mas neste caso, o próprio símbolo colocado na placa (caveira com ossos), denuncia que aquela lavoura é um lugar de morte e não de vida. Então, que tipo de agricultor é esse, que se dá ao trabalho de plantar um milho que gera morte? Querendo proteger sua lavoura do furto, acabou por prejudicar a si mesmo e todos os outros agricultores que cultivam milho, já que sobre eles vai pairar a dúvida da qualidade do produto que entregam à sociedade.

Comunicação do medo na empresa

Pode ser que sua empresa esteja fazendo o mesmo tipo de comunicação. Faça o teste respondendo estas perguntas: 1. Como seus gerentes e encarregados lidam com o seu time: com ameaças ou incentivos? 2. As pessoas costumam render a mesma coisa quando o gerente tira férias ou falta ao trabalho? 3. Fora dos muros da empresa, como seus colaboradores descrevem sua marca, o ambiente e as políticas da empresa? 4. Há uma busca constante por melhorar a performance ou os colaboradores estão acomodados fazendo apenas “sua obrigação”?

Comunicar positiva

Como você escreveria de forma positiva aquela placa para persuadir as pessoas a não furtarem o milho do agricultor? Há inúmeras formas, mas arrisco duas aqui: “Você pode furtar algumas espigas. Eu vou perdê-las mas vou manter minha honestidade. Já você vai trocar a sua honestidade por milho”. Ou, se quiser usar uma pitada de humor, poderia ser: “Meu burro adora esse milho! Se ficar solto, ele rouba o milho e come tudo. Você também gosta do meu milho e está solto. Mas você não é um burro!”. Não sei se o efeito seria o mesmo. Mas com certeza a comunicação seria positiva e não respingaria na moral do agricultor e da lavoura.

Na empresa, guie sempre sua comunicação pelo viés da positividade. Evite a palavra “não”, evite os verbos imperativos, demonstre confiança no caráter e na competência de sua equipe, elogie em público sem economia e corrija em particular quando necessário. Estimule a autonomia e a iniciativa e não o dever ou a obrigação. Os frutos talvez demorem um pouco mais do que pela via do medo, mas virão muito mais viçosos, suculentos e duradouros.

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